ardor

Música, poema e voz: Murilo Guimarães

cabe um poema
nesta pedaço de pele.
é o que enxerga a minha retina
temerosa e tímida.

cabem versos
nesta cama toda.
das minhas mãos desocupadas,
saem palavras aladas.

nesta minha pele rósea
cabe a nossa trama
complexa e antiga,
cheia de amor.

onde mais, além
desta colcha cheirosa,
versos fogosos
e gemidos de ardor?

Ser querido por um poeta pode ser um tormento. Para ele, qualquer grão de areia é um universo de emoções fortíssimas e cada olhar é uma expressão imensurável de amor. O poeta não teme o amor, ele o idolatra. Acima de tudo, um poeta é um bicho que ama. Ainda que, por detrás da sua volúpia, pouco haja, além de desejo incontrolável, o qual se torna em tranquilidade pacífica, quando derramado sobre versos quentes. Versos nascidos, antes de mais, para exprimir a sensação orgástica deixada para trás, ou a vontade intensa de recuperar a força bruta da paixão, capaz de acelerar a vida e de quase parar o tempo. Os versos servem, aliás, para acalmar o poeta. Ser querido por um destes seres exige a madureza do abacate, fruta que, depois de colhida, vira comida doce ou salgada. Para ela, mais vale ser sabor na língua de quem a adora, do que estar esquecida num canto qualquer duma fruteira inóspita e fria. Agradeça, portanto, caso um poeta queira a sua atenção e o seu corpo. Ele lançará sobre a sua pele o sabor duma vida trespassada por aventuras raras e profundamente sentidas.

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