O Imperador

Sobre este “O Imperador”, tenho algo a dizer. Nem sei se deveria expor publicamente meandros de um poema para não lhe tirar a graça, mas aqui vai.

Quando eu era menino, sempre interpretava o rei, nas dramatizações de contos de fada da escola primária. Na adolescência, as memórias destas encenações passaram a me incomodar: por que eu não poderia “ser” o príncipe? Nunca me achava bonito, forte e aventureiro o suficiente para as conquistas amorosas – e mesmo as profissionais.

Assim foi até que, há pouco tempo, mexendo nos quartos escuros do meu subconsciente, dei de cara com aquele rei dos reinos da fantasia. Eu poderia já ter erigido castelos e conquistado territórios materiais e simbólicos. No entanto, sem acolhe-lo, nunca havia aproveitado da sua força inerente.

Além disto, não o acolher e integrar à minha personalidade fez com que eu alimentasse fantasias megalomaníacas e egóicas. Não conseguia levar adiante muitas relações afetivas e profissionais que vivenciava, pois, inconscientemente, eu queria comer os corações dos que me amavam.

Parece monstruoso, não é? Todavia, pense comigo: este arquétipo do Imperador é dominante na nossa sociedade. Quanta gente narcisista, distorcendo o seu rei ou rainha internos, exerce domínio sobre a vida dos súditos e súditas que se deixam levar pelo seu charme poderoso?!

Ao reconhecer o meu próprio reizinho, eu pude me localizar nesta sociedade de dominadores.
O meu eu, adulto e poeta, retorna àquelas encenações da escola infantil, a fim de rir um pouco do menino Murilo. Ele negligenciou a força do seu rei e, ironicamente, invejava o príncipe, que, nos contos, queria ser como ele. A partir de agora, ele poderá fundar os reinos que têm em mente.

Eis o meu monstro particular e como o venho re-significando. E você, já seguiu alguma pista da infância, para encontrar e abraçar o seu próprio monstro?

Talvez ajude o relembrar das personagens interpretadas nas dramatizações da sua educação básica. Pergunte-se o que você tem feito com os significados daquelas figuras da ficção sobre a criança que um dia você foi.

Mais não digo. Que o poema e as batalhas da vida fluam na paz que lhes for possível.

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