Há um mês, eu criei uma melodia alegre.
Isto foi inusitado, porque tenho desenvolvido e publicado no @RGMuilo um projeto de músicas e poemas baseados em memórias difíceis e em monstros infernais que me habitam.
Decidi, então, reservar esta melodia, cuja batida emula um forró lento e quente, para um momento em que versos felizes viessem até mim. Mal sabia eu que, do dia de natal até o dia 31, eu desembaraçaria nós psicológicos e materiais antigos, liberando o caminho para resoluções importantes. Diante da constatação da iminência de tempos mais tranquilos para mim, passei a ficar atento à chegada dos versos que lhe fossem correspondentes.
Eles me chegaram na noite de 31.
Estava eu, sozinho em casa com a gata, Akira, curtindo uma passagem de ano solitária e alegre – apesar de tudo! – quando li a história de Danny Stewart, Peter Mercurio e o filho deles, Kevin. Chorei muito ao conhecer a narrativa da tarde em que o assistente social, Danny, encontrara um bebê recém-nascido envolto numa camisa azul, numa estação de metrô, em Nova York. Sem dúvida, esta foi a sorte grande de Kevin, mas também de Danny e Peter, como fica atestado nas reportagens sobre este divino acontecimento.
Final de 2020, sorte grande desta família, notícias inesperadas vindas até mim: experiências vividas dias depois da ultrapassagem de Saturno por Jupiter. Tudo isto me lembrou aquelas sensações agradáveis que chegam sem avisar e que nos alegra o dia. Sabe do que eu estou falando? Do acaso, que não é por acaso, pois já existe antes de o percebermos.
Tal como a melodia de semanas atrás, que passou a se chamar “Fortuna”, depois de receber os seguintes versos, nas primeiras horas de 2021:
De uma hora para outra, um jorro de alegria,
uma festa por dentro da camisa,
um arrepio na base da espinha.
Como no dia em que Daniel encontrou
a criança recém-nascida na estação de Metrô,
criança esta que viria a ser a sua filha,
e no mesmo instante ele soube
que ela seria a sua grande fortuna.
Não me cabe questionar origem ou forma
do enlevo inesperado,
nem mesmo quero descobrir o propósito
e o paradeiro do seu dileto remetente.
A ordem cósmica é sabida:
Saturno, depois de avolumar
o lamacento caminhar da vida,
é, inevitavelmente, ultrapassado por Júpiter,
que lhe devolve a sua sorumbática riqueza.
Porém, durante a névoa,
a nossa perceção não nos avisa
a hora em que a realidade clareia.
Pois bem, estava eu, alheio aos acontecimentos,
quando, do nada, veio, sei lá de onde,
um toque de zelo por dentro da meia fina.
A narina sentiu o cheiro a canela
e uma cócega veio brincar no cimo da minha barriga.
Corri a produzir a música e a tirar fotos minhas, vestido de cor de rosa. Considero necessária a sua mensagem, tanto para mim como para todas as pessoas desesperançadas do Planeta. Ela anuncia a chegada do alívio, anteriormente emanado de um canto qualquer do cosmo. Devemos, portanto, estar atentos e atentas porque ele já existe e a qualquer hora nos chega.
Afinal, Júpiter já devolveu a Saturno a sua sorumbática riqueza, no entanto a nossa percepção ainda não se deu conta disto.
Segue a primeira versão de “Fortuna”. Espero que dance um pouco com ela e que se inspire.
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