Sob o sol crepuscular da tarde fúcsia,
na Lisboa ribeira, perto da ponte,
onde zumbis de outras eras repercutem
a voz carrasca de reis e de rainhas,
grita a massa faminta e apavorada,
largada a esmo na urbe em chamas.
Clamar a medicina, de que adianta?
Quantas mais almas sucumbidas
na lama sumosa da ganância elitista?
Clamar a medicina, em que resulta,
se sob o sol crepuscular da tarde fúcsia,
na Barra marinha, perto da torre,
numa varanda da vila azulejada,
canta um conde desumano,
a caçoar do choro da gente aflita?