Lembrança dos cães,
poesia, Cabo da Roca.
Qual uma transgressão,
põe-me à prova.
Desdita trançada, pálida,
rastafari branco, anel,
aparece de lado nenhum.
A solidão, esta amarra,
a saudade da casa,
o tambor. Dançar quieto,
a 134 batidas por minuto.
Rejeito tudo
o que me oferece:
a violência, o torpor
cansam a minha beleza.
Por que você batia
o seu pau sobre a mesa,
enquanto debatíamos
a conjuntura nacional?
Seu poder, sua graça.
Segure-se,
vai dar consigo na fossa.
Você, abandonado,
à espera, a nadar;
bravura inerte em alto-mar.
Morte morrida.
Eu, por minha vez, exaurido,
aponto a um movimento,
num incessante sorriso,
que igualmente transgride.
Em nome próprio, independente,
autodidata, atonal, quase doutor.
Ao cantar para a praça lotada:
comoção exacerbada
da multidão de indivíduos.
A algazarra:
o velório da personagem de Lia
de Itamaracá,
em Bacurau.
Rejeito tudo
o que me oferece
a sua presença bizarra:
medo, azedume, rancor
vão contra a minha natureza.