Rogo-vos que os acompanheis, Deusa, senhora.
Não há quaisquer outras deidades a guiá-los agora,
pelos prados secos por onde vagam, famélicos.
Nenhum profeta lhes quer anunciar
de bom grado, compassivo e obsequioso,
as desgraças que os esperam
no vale profundo e pantanoso,
escondido pela noite perene e manhosa.
Perdoai-os, Senhora,
de vossas alturas, magnânima, relevai
os gritos atordoantes que as suas almas,
anestesiadas por furor e melindre,
soltavam nas manhãs que se queriam mornas.
Ainda que tenham, outrora,
deitado sementes de pavor e de fúria,
nos peitos dos seus filhos e filhas,
imbuídos de vontade pervertida,
inebriados pelo cantar duma mafarrica criatura,
dai-lhes uma coberta nas noites mais frias,
na montanha gelada para onde partem, absorvidos por uma perversa idolatria.
Imploro-vos que não lhes deixai faltar, suprema Deusa,
um sumo frugal que os faça, vez ou outra,
lembrarem-se da doçura por eles usurpada
das vidas das minhas irmãs e primas,
e da minha própria vida.
Ainda que o tenham feito sagazmente,
a celebrarem, nas tardes cobertas de fumo,
a insidiosa vilania das feras inclementes,
que lhes ditavam a senha para lançarem ao chão
aquelas sementes deterioradas.
Uma oração. Excelente poema!