Teimamos em retornar à vila onde,
entre 1987 e 1992,
um maníaco mascarado matara
cento e tantas pessoas.
Mais do que visitar as tumbas das vítimas,
passeamos pela casa abandonada,
a mesma em que vivera, solitário,
o tal criminoso, verdadeiro genocida,
eu diria, visto que somente 259 pessoas
formavam a população integral do lugarejo.
Fomos além disto. Curiosos ingênuos,
repetimos entre nós os rituais macabros
que antecediam cada assassínio.
Recriamos os cenários, imitamos os gritos,
repetimos os gestos do abominável psicopata.
Até que nos saudaram os espíritos atordoados,
despertados pela nossa encenação desprezível,
vivida por nós com entorpecimento e fúria,
no limbo entre dois mundos.
Exaltávamos, patéticos,
a memória dum celerado,
antes de nos surpreenderem
as garras assustadoras da vida.
Sangue inundou toda a catedral erguida
pela nossa imaginação aberrante.