Para que – ou a quem – servirão as leis brasileiras, a partir de agora?
O poder executivo federal pode ser extirpado por um golpe e a presidenta eleita, bem como outros líderes do seu partido, têm a vida escrutinada para que se encontre – ou se crie – uma razão para justificar o golpismo. Ao invés de agir com parcimônia, o interino remodela todo o governo, contrariando a vontade popular, num ato de traição à República, com amplo apoio de parte da imprensa, dos industriais, dos empresários e do Judiciário;
Homens podem dopar e estuprar mulheres. Enquanto eles são mandados de volta para casa, a vítima tem sua vida escrutinada, a fim de se encontrar – ou de se criar – uma razão para justificar a violência que ela sofreu. Ao invés de agir com cuidado e acolher a dor da vítima, de ao menos considerar e tratar os envolvidos como suspeitos, a polícia civil, com apoio de parte da sociedade misógina e de parcelas da imprensa (inclusive de esquerda), num ato repugnante de desamor e desumanidade, lança à sociedade um fio narrativo que desemboca na responsabilização da vítima;
Homens podem humilhar, espancar ou matar Lésbicas, Gays, Bi, Travestis e Transexuais, com apoio de parte da sociedade homofóbica e de parcelas da imprensa, que reverberam a ideia de que o homossexual, para não ser violentado, deve agir com discrição, em mais um ato de barbárie, onde a culpabilidade é construída a partir dos traços da personalidade da vítima;
Grandes empresários dos setores rural e industrial podem escravizar trabalhadores, com apoio irrestrito da maioria dos legisladores e de parte do judiciário e da sociedade escravocrata;
A polícia militar pode invadir uma comunidade, escolher aleatoriamente jovens para matar. Em sua maioria, jovens do sexo masculino e negros. Sobre o cadáver são plantadas as provas de que o assassinado é o responsável por sua morte. O governador de São Paulo criou um indicador falso para esconder o enorme número de vítimas de ações policiais violentas. O governador de Bahia elogiou a força tarefa que assassinou 13 jovens no bairro do Cabula, dizendo algo mais ou menos assim: “receberam a bola e marcaram o gol”;
Indígenas podem ser expulsos de suas terras, ou mortos dentro delas, a mando de grileiros e exploradores minerais, com apoio irrestrito da maioria dos legisladores e de parte do judiciário e da sociedade xenófoba.
Imagem: Ribs (Facebook).
Quando os deputados-pela-família-e-pela-corrupção do espectáculo grotesco do dia 17/04/2016 responderão por sua parcela de culpa neste cenário?