Sabe quando aquele programa de ‘humor jornalístico’ da Rede Bandeirantes de São Paulo fez sua primeira piada sexista ou racista? Pois é, se tivéssemos, coordenadamente, reagido, boicotado e lhe feito engolir a incitação à violência, teríamos chegado ao ponto insuportável de desrespeito e intolerância a que chegamos?
O que fizemos quando o Luciano Huck e o Gugu inventaram aquelas personagens em trajes miúdos e nos fizeram aceitar a falácia de que era normal fazermos de qualquer mulher um mero objeto sexual, sem quaisquer limites em relação à sua integridade física?
Já pensou se nós, coletivos negros, feministas, LGBTs, de trabalhadores e indígenas, tivéssemos repudiado firmemente a primeira ‘leitura da realidade brasileira’ feita a partir do programa Big Brother?
Consegue imaginar o que teria acontecido se tivéssemos boicotado, massivamente, a milionésima novela sem qualquer negro ou indígena em papéis de destaque, fora da cozinha ou da senzala; ou com a mulher perdendo a honra por causa de um homem, como se ele fosse seu único e melhor objetivo na vida; ou que somente apresentasse homossexuais caricatos, subservientes e castos?
E se tivéssemos boicotado também as marcas de cerveja ou de roupas íntimas, que comparavam as mulheres a comida em suas campanhas de publicidade?
E quando aquele primeiro programa de violência explícita estreou na tv brasileira (talvez até na própria Bandeirantes), não teria sido ótimo se a gente tivesse, também de forma coordenada, repudiado-o, por ser um disseminador lucrativo da homofobia, do machismo, do racismo e do preconceito de classe?
Será que estaríamos, em pleno 2015, à beira de uma guerra de costumes, com a obrigação de defendermos os princípios mais básicos da vida em comunidade?
RG:Murilo 